História do Grupo



O atual Grupo Kiron foi idealizado e formado por antigos membros que freqüentavam as reuniões de auto-ajuda da Irmandade de Introvertidos Anônimos. Essa entidade (a qual o Grupo Kiron ainda apóia) prometia dar suporte às pessoas com problemas mesmo além da fobia social – também para depressivos e portadores de vários distúrbios de personalidade (entre estes o Evitante ou Evasivo e o Esquizóide). Com o passar do tempo e seus problemas sendo superados, estes membros da antiga organização sentiram necessidade de aperfeiçoar a amada irmandade – até mesmo como uma forma de gratidão pelos sucessos e conquistas alcançados nela.

No entanto, estes membros agradecidos e com boa vontade encontraram vários obstáculos (*) próprios das mesmas regras em que a irmandade se baseava (12 Tradições e 12 Conceitos). Além disso, os próprios 12 passos adaptados (dos Alcoólicos Anônimos) não foram criados inicialmente para o perfil do introvertido. Aliás, ao contrário, estes passos foram criados para o perfil do alcoólatra pesado: Extremamente narcisista, prepotente, soberbo, egocêntrico e egomaníaco, às vezes até mesmo megalomaníaco, brigão e fanfarrão impulsivo – quando não um “assediador moral” ou “abusador” e, em casos extremos, coisa pior.

O introvertido não tem essas características, ao contrário, tem uma falta lamentável de autoconfiança, auto-estima e assertividade. Falta-lhe exatamente um “ego” a que se orgulhar de ter. Para nós os 12 passos estão de cabeça para baixo.

Mesmo no caso da abstinência pregada pelo lema principal dos Alcoólicos Anônimos, o “Só por hoje evitarei o primeiro gole”, não encontrávamos reflexo em nosso caso, pois não havia uma bebida a ser evitada. O alcoólatra que se abstém, já de pronto está mais ou menos em condições de tocar seus negócios e sua vida, sem necessidade de mais nada, a não ser fazer em si mesmo uma reforma moral. Os 12 passos para ele começam depois dele conseguir ficar sem beber por 24 horas. Portanto, por esta lógica, só depois de superada a fobia é que fariam sentido os 12 passos para nós. Mas do que o fóbico social tem a abster-se? E mesmo no caso de se encontrar isso, como se abster de algo intangível e que faz parte da própria pessoa? É impossível ao fóbico se abster da fobia social. E mesmo a sua superação demanda muito tempo para se completar. Surge daí um impasse insolúvel.

Estes membros então, com sua extensa bagagem de recuperação, perceberam que o modelo embora bem intencionado e produtivo (nos casos mais agudos de tais depressões e fobias), o IA não proporcionava ainda o ambiente ou técnica suficiente para uma evolução e aprofundamento da recuperação daqueles membros em melhores condições – principalmente no caso do fóbico social e do depressivo crônico. O IA se mantinha em nível baixo de suporte e ajuda.
           
Outra constatação foi que, fazendo em separado uma avaliação realista e objetiva, estes membros recuperados concluíram que haviam desenvolvido eles mesmos um extenso repertório de técnicas (não só profissionais como criados por eles mesmos) que não tinham qualquer ligação com o IA nem com qualquer dos passos e tradições. Mas que eram mais eficazes, objetivos e diretos, com resultados práticos e concretos em pouco tempo.

Do mesmo modo, para poder se aperfeiçoar, a forma de organização da irmandade precisava ser mudada para uma abordagem profissional e de caráter hierarquizado, com administração mais parecida ao modelo empresarial de clinica terapêutica (baseado em pessoas qualificadas profissionalmente). Isso precisava ser feito para que o sistema funcionasse melhor do que na abordagem tradicional dos anônimos, que segue uma linha mais próxima do anarquismo.

Enquanto isso, várias atividades “extra-irmandade” que favorecem muito a recuperação de forma prática e imediata não estavam previstas em lugar nenhum destas regras ou no modo da abordagem tradicional dos anônimos. São elas, por exemplo, as confraternizações, passeios e viagens recreativas terapêuticas. Nesse sentido, o Grupo Kiron veio para ocupar todas essas lacunas que a irmandade apresentava.


(*) – Por exemplo: conforme as:

8ª Tradição: “Introvertidos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, embora nossos centros de serviços possam empregar trabalhadores especializados”.

9ª Tradição: “I.A. jamais deverá ser organizado como tal; podemos, porém, criar juntas de serviços ou comitês diretamente responsáveis perante aqueles a quem servem”.

10ª Tradição: “Introvertidos Anônimos não opina sobre questões alheiras à organização; portanto o nome de I.A. jamais deve aparecer em controvérsias públicas”.

11ª Tradição: “Nossas relações com o público se baseiam na atração em vez da promoção: precisamos sempre manter o anonimato pessoal no nível da imprensa, rádio, T.V. e filmes”.